“Pieces of a Woman” e o Deus El-Roi.

Milena Vieira
3 min readMay 10, 2021

A mulher tem um papel tão importante na sociedade que, geralmente, só é enxergado em recortes. Você pode perceber isso através das mídias: temos a mulher-profissional (que geralmente só é representada na “megera empresária”), a mulher-amante, a mulher-esposa (que difere da mulher-amante…), mulher-filha, mulher-acadêmica… uma longa lista de arquétipos sociais que se tornam substantivos.

Acontece que nenhuma mulher tem esse privilégio de desempenhar um papel só, e Martha Weiss nos abre a porta para mostrar o lado oculto de como tudo isso é conciliado – ou a tentativa de tanto.

Martha é uma mulher bem-sucedida e feliz, até onde mostra no início do filme. Está prestes a dar à luz uma filha, mas infelizmente as coisas acabam dando errado e ela a perde. Pieces of a Woman mostra, com muita sensibilidade, o processo de cicatrização dessa ferida; ou então, a morte e renascimento dela.

Não quero entrar aqui nos méritos de classe e cor, onde essa discussão se alonga e aprofunda. Quero trazer nossos olhos para a dor de toda mulher que acorda todos os dias, tenta conciliar esses recortes e ainda assim é invisibilizada e inferiorizada. É exaustivo. É dilacerante.

Lutamos constantemente para descobrir, em meio ao trajeto, o que é ser mulher e nos cobram a perfeição dos moldes. Estamos nas trincheiras da vida, tentando manter os olhos abertos a todo o tempo porque não nos permitem descansar.

Somos seres individuais impostos à moldes; as grades da visibilidade fazem justamente o oposto.

Acredito que seja por conta disso que uma das minhas histórias preferidas do Antigo Testamento é de uma mulher escrava que alcançou o favor de Deus.

“Então Agar deu ao Senhor, que havia falado com ela, o nome de “Tu és o Deus que vê”. Porque ela dizia: “Neste lugar eu olhei para Aquele que me vê!”” Gênesis‬ ‭16:13‬ ‭

Agar foi serva de Sara, mulher de Abraão. Deu à luz Ismael, filho de Abraão mas que não faria parte da aliança.

Agar, desamparada por seus senhores, foi amparada pelo nosso Senhor. Ela foi enxergada.

Na história dessa escrava que foi descartada quando não era mais útil, eu vejo o Messias que me vê por completo e ressignifica minha existência. O mesmo Deus que, séculos depois, encontra-se com outra mulher marginalizada, também de fora da aliança, também perto de um poço (Gen 21:19/Jo 4:7). Ele a oferece sua mão, seu tempo, sua atenção. Sua água nos mata a sede e reaviva a alma.

Jesus reconcilia o todo. Ele não molda recortes e nos pede para juntá-los e sim, doa a plenitude de si para que sejamos verdadeiramente completas.

Somente nosso Criador pode dizer quem somos.

Cristo é o Deus que une meus pedaços com a plenitude do Seu Amor.

Ele está aqui e Ele me vê.

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Milena Vieira

cristã, amante de idiomas, fotógrafa por hobbie e escritora por necessidade (própria).