here’s to the fools who dream, here’s to the hearts that break.

Milena Vieira
3 min readJul 16, 2021

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La La Land é um dos meus filmes preferidos.

Nele conta a história de Mia, uma jovem atriz que sonha em estrelar nas telas e escrever seus próprios roteiros e de Sebastian, musicista que sonha em abrir um clube de jazz.
Em meio à multidão de sonhos que se chocam em Los Angeles, floresce entre eles um romance que suaviza a desesperança de um futuro incerto.

(alerta de spoilers abaixo)

Eu sempre odiei o fato de que Mia e Sebastian não ficam juntos no final. Achava controverso o fato de que os dois “sacrificaram” a relação que tinham por seus sonhos; mas acho que todo esse tempo eu assisti o filme pela perspectiva errada.

“Será que alguém na multidão é a única coisa que você realmente vê?
Assistindo, enquanto o mundo continua girando?
Em algum lugar haverá o local onde eu encontro quem eu vou ser
Um lugar que está apenas esperando para ser encontrado.”
(Someone in the Crowd; 2ª música cantada no filme)

Assim como pensar que nosso destino já foi traçado e que nós apenas nos sujeitamos a isso (porque não temos escolha) pode ser uma ideia perversa, pensar em pessoas como pontes a um lugar, também. Mas talvez pessoas não sejam pontes, encontros sim. Nós não as usamos com consciência daquilo que elas podem nos oferecer (exceto nos casos que sim, né; alô, galera do networking!), e na maioria das vezes não somos capazes nem de imaginar o que pode resultar daquilo.

Pessoas deixam marcas, nos abrem a gama de escolhas, possibilidades… nos ensinam mais sobre nós mesmos de fora para dentro do que — por diversas vezes e motivos — conseguimos enxergar de dentro pra fora. Escrevi num outro texto que conhecer a realidade do outro é o que expande nossos horizontes e amplia nosso conhecimento de mundo; aqui, especificamente, não apenas crescemos individualmente como também conhecemos melhor partes ainda intocadas do nosso íntimo. Quando nos abrimos para tanto, essas pessoas tocam nosso coração, nos amam e nos é possível retribuir esse amor à nossa maneira, mesmo que aquela relação não tenha um fim em si mesma. A não permanência de um na vida do outro não anula o afeto porque amor não pressupõe posse.
O encontro passa, o momento passa, mas prefiro pensar que os ecos da pessoa em nossa vida permanecem. Um cheiro, uma música, uma piada interna, a cena de um filme… e pronto — ali está ela. Mesmo quando a encontrar é o que nos leva para longe.

Assim que se conheceram, Sebastian instintivamente enxergou potencial na Mia. Por mais que ele mesmo estivesse quebrado, nunca deixou de ser um otimista que sonha alto — e faz os outros acreditarem que o podem também. Mia, por mais que o achasse meio doido, deixou-se levar por aquela conexão estranha que rolou entre os dois.

Acontece que quanto mais eles estreitavam sua relação, mais se distanciavam daquilo que queriam. Para que eles ficassem juntos, aqueles sonhos que faziam deles quem eram e que foi o que fez com que eles se apaixonassem escapavam por seus dedos, e eles não se reconheciam mais. Ao ruminar de sua relação, eles perceberam o quão distantes estavam de si mesmos. No final das contas, alcançar seus sonhos era o destino final; não por ganância, mas porque assim eles se tornaram a melhor versão de si mesmos. Para que eles conseguissem conquistar o que queriam foi imprescindível que esse encontro acontecesse.

Creio que a era em que vivemos influencia no fato de que enxergamos o amor como objeto de consumo. Por isso tive tanta dificuldade em aceitar que Mia e Sebastian não ficam juntos — são quase 5 anos assistindo, amando e entrando em crise de negação, toda vez. Parece haver algo errado quando a completude é encontrada na realização própria, não no outro.
Seguimos sem saber aonde o caminho nos levará pois não há escolha senão seguir; mesmo com a dor, mesmo com temor.

Acho que finalmente percebi — e aceitei — que La La Land tem sim um final feliz. Felicidade não é (necessariamente) aquilo que idealizo para mim, quem dirá para os outros. Na maioria das vezes a encontramos quando não estamos em busca dela.

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Milena Vieira

cristã, amante de idiomas, fotógrafa por hobbie e escritora por necessidade (própria).