eu corro de mim e pra mim.

Milena Vieira
2 min readMay 28, 2021

consegui, finalmente, ouvir o novo álbum daquele artista que tanto curtíamos juntos.

você se lembra daquele show que ele marcou justamente no dia em que eu tinha prova na faculdade e não consegui ir? no final das contas, nem você foi. lembro que fiquei tão brava que reclamei com ele no Twitter, ao que me respondeu: “poxa, não acredito!”

pois é.

hoje, olhando de longe, nem eu acredito.

é inacreditável a quantidade de vezes que você ia e vinha. eu te aceitava de volta com livre acesso ao meu afeto; talvez, numa dessas suas estadias, você percebesse o quão madura e disposta eu era. arquitetei um lar minuciosamente pensado pra você.

não sei — decerto, duvido muito — se você se fez de lar para que eu ficasse.

sendo pensado pra mim ou não, eu amava rondar sua mente. observar a forma como você pensava. contemplar seus sonhos como se fossem meus. temo dizer que até hoje não conheci outro abraço bom como o seu. você beijava minha testa e tudo parecia pequeno demais pra nós. mas, se me permite dizer, sempre achei seu ‘eu te amo’ fácil demais.

não é que eu queira te culpar por todo o dano, tampouco te estampar como vilão nos jornais.

somos os personagens evolutivos da estória — nossa história; e ela se escreve em pausas, períodos, travessões… com toda certeza, bem mais reticências do que poderíamos prever.

sua vida, ao que vejo daqui, seguiu incrivelmente bem sem mim. você encontrou nela o lar que eu jamais pude construir pra você. e tá tudo bem.

eu não te agradeço pelas lições, muito menos pelas noites de choro. não quero soar positivista; vai por mim, estou bem longe de o ser. não te agradeço por ser mais desconfiada, nem por ter medo quando uma música que eu gosto muito me lembra alguém. por Deus, eu jamais agradeceria o fato de ter me cansado dos recomeços. ou por me sentir mais insuficiente que antes.

eu grudei meus cacos um a um sozinha e sou mais forte hoje, mas não, eu não te agradeço por isso.

obrigada pelo bem.

obrigada por todas as vezes que você cantou minhas músicas prediletas. pelas piadas sem graça e seu olhar atento.

essa porta que eu sigo agora também se parece com a nossa que fechou, mas hoje entendo que não importa o esforço, não podemos pagar um preço pelo amor.

ainda bem e graças ao Amor.

--

--

Milena Vieira

cristã, amante de idiomas, fotógrafa por hobbie e escritora por necessidade (própria).