enquanto ela não vem.
tenho vagado por sentimentos.
tenho caminhado olhando mais os pés.
abraço o instante que me traz a angústia pois descobri que não posso fugir dela.
essa resistência torna-se espinhosa, machuca, envenena o solo. navego pelos dias sem esperar nada deles e, ainda assim, temerosa, cuidadosa, desconfiada. quando me perguntam se estou bem, logo digo “bem agora, obrigada”; nunca sei o que a próxima hora me reserva.
eu perdi um controle que sinto nunca ter sido meu. carrego as emoções no topo da cabeça e minha coroa de Maleável ficou escondida debaixo da cama.
sinto que a decepcionei; por tanto tempo trabalhamos para construir o forte Fácil De Lidar. estou tão distante de sua dignidade.
mas é que minhas horas tristes são tão, tão minhas. Maleável nunca as aceitaria, então deixe que ela fique embaixo da cama. já eu, sento-me no tapete, estendo-as como se fossem um baralho de cartas, checo uma por uma, organizo por ordem alfabética, cronológica; jogo pra cima e deixo que elas caiam sobre mim, até que isso tudo faça algum sentido. refaço, repito, repenso – uma busca incessante do controle do Outro-Alguém.
não me entenda errado.
estou aqui como quem espera. só não sei na espera do quê.
essa dança não é descoordenada, ela está. a música virou Zunido. eu atravesso meus dias tentando fazer disso alguma música.
quando ele não quer harmonizar, tudo bem também. deixo-o zunir à vontade.
sei que o Sol há de nascer e seus raios curarão meu daltonismo.
hei de enfim enxergar além do que meus olhos podem ver.
enquanto ela não vem, eu espero.