enquanto ela não vem.

Milena Vieira
2 min readApr 22, 2021

tenho vagado por sentimentos.

tenho caminhado olhando mais os pés.

abraço o instante que me traz a angústia pois descobri que não posso fugir dela.

essa resistência torna-se espinhosa, machuca, envenena o solo. navego pelos dias sem esperar nada deles e, ainda assim, temerosa, cuidadosa, desconfiada. quando me perguntam se estou bem, logo digo “bem agora, obrigada”; nunca sei o que a próxima hora me reserva.

eu perdi um controle que sinto nunca ter sido meu. carrego as emoções no topo da cabeça e minha coroa de Maleável ficou escondida debaixo da cama.

sinto que a decepcionei; por tanto tempo trabalhamos para construir o forte Fácil De Lidar. estou tão distante de sua dignidade.

mas é que minhas horas tristes são tão, tão minhas. Maleável nunca as aceitaria, então deixe que ela fique embaixo da cama. já eu, sento-me no tapete, estendo-as como se fossem um baralho de cartas, checo uma por uma, organizo por ordem alfabética, cronológica; jogo pra cima e deixo que elas caiam sobre mim, até que isso tudo faça algum sentido. refaço, repito, repenso – uma busca incessante do controle do Outro-Alguém.

não me entenda errado.

estou aqui como quem espera. só não sei na espera do quê.

essa dança não é descoordenada, ela está. a música virou Zunido. eu atravesso meus dias tentando fazer disso alguma música.

quando ele não quer harmonizar, tudo bem também. deixo-o zunir à vontade.

sei que o Sol há de nascer e seus raios curarão meu daltonismo.

hei de enfim enxergar além do que meus olhos podem ver.

enquanto ela não vem, eu espero.

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Milena Vieira

cristã, amante de idiomas, fotógrafa por hobbie e escritora por necessidade (própria).